El tiempo perdido

EL TIEMPO PERDIDO, María Álvarez

Um clássico café de Buenos Aires é o espaço para um encontro peculiar que se dá há vários anos. Um grupo de pessoas da terceira idade reúnem-se de forma metódica, congregados por uma obsessão em comum: ler e discutir Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust. Com a sua sempre afectuosa atenção e delicado olhar, María Álvarez, realizadora do especialíssimo Las Cinéphilas (4º AR), consegue capturar neste documentário não só a beleza do acto da leitura em si, mas também algo profundamente humanista, como é o prazer de partilhar uma experiência sublime com o outro.

Realização María Álvarez. Argumento María Álvarez. Fotografia Tirso Díaz Jares Rueda, María Alvarez. Montagem María Álvarez. Som Sofía Straface. Interpretação Grupo de lectura de “En busca del tiempo perdido”, de Marcel Proust. Produção Tirso Díaz Jares Rueda, María Alvarez, Mariano Avellaneda. 2020. 102′

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QUÉ SERÁ DEL VERANO, Ignacio Ceroi

Ignacio compra uma câmara digital em segunda mão para registar as férias e no seu interior encontra um cartão de memória esquecido carregado de imagens que se convertem no disparador de uma expedição rumo a uma intimidade desconhecida. Manifestações em Paris, viagens pela selva africana, os afectos de outro. Tudo pode conviver nas vidas paralelas, reais ou imaginárias, de este filme (Melhor Filme Argentino BAFICI 2021), com uma liberdade explosiva que vai em busca dessa semente ficcional guardada no coração de alguns registos documentais.

Realização Ignacio Ceroi. Argumento Ignacio Ceroi, Mariana Martinelli. Fotografia Ignacio Ceroi, Mariana Martinelli, Charles Louvet. Montagem Ignacio Ceroi, Hernán Rosselli. Som Hernán Biasotti. Interpretação Ignacio Ceroi, Mariana Martinelli, Charles Louvet. Produção Esquimal Cine, Un Puma. 2021. 85′

 

 

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LA EDAD MEDIA, Alejo Moguillansky e Luciana Acuña

Moguillansky, engenhoso e agudo realizador, e Acuña, não menos engenhosa e aguda bailarina e coreógrafa,  escrevem, produzem e actuam este filme de espírito caseiro com a pandemia da Covid 19 como pano de fundo. A quarentena transforma seriamente o quotidiano de uma família de artistas que deve engendrar novas formas de trabalhar e ganhar dinheiro. Longe de se converter num drama ou denúncia, La Edad Media amplia esta vivência como se de uma comédia absurda se tratasse, aberta às derivas musicais e dramatúrgicas que vão desde Beckett a uma enternecedora actuação canina. Um filme simples sobre coisas complexas que acaba de vencer o prémio a melhor longa-metragem na competição argentina do 23º BAFICI.

Realização Alejo Moguillansky, Luciana Acuña. Argumento Alejo Moguillansky, Luciana Acuña, Walter Jakob. Fotografia Alejo Moguillansky. Montagem Alejo Moguillansky, Mariano Lilás. Som Marcos Canosa. Interpretação Alejo Moguillansky, Luciana Acuña, Cleo Moguillansky, Lisandro Rodríguez, Walter Jakob, Lalo Rotaveria, Luis Biasotto. Produção Ingrid Pokropek, Laura Citarella, El Pampero Cine. 2022. 90′

 

 

 

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LA DEUDA, Gustavo Fontán

A escuridão envolve o rosto de Mónica enquanto procura dinheiro numa noite que parece não ter fim. Os seus gestos deixam ver que esta viagem não a faz pela primeira vez e que a dívida que tem para pagar vai para além de uma formalidade bancária. Esgotar as possibilidades também passa por provocar encontros que desafiam a vulnerabilidade da personagem através dos olhos perseverantes da actriz Belém Blanco. La Deuda lembra-nos que nas trevas mais profundas das relações humanas também existem clarões de amor que podem aparecer como a alva de um novo dia. 

Realização Gustavo Fontán. Argumento Gustavo Fontán, Gloria Peirano. Fotografia Diego Poleri. Montagem Mario Bocchicchio. Som Abel Tortorelli. Interpretação Belén Blanco, Marcelo Subiotto, Leonor Manso, Edgardo Castro, Walter Jakob, Andrea Garrote, Pablo Seijo. Produção Lita Stantic, Silvana Di Francesco. 2019. 74′

 

 

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NO EXISTEN 36 MANERAS DE MOSTRAR CÓMO UN HOMBRE SE SUBE A UN CABALLO, Nicolás Zukerfeld

A primeira coisa que vemos são homens montados num cavalo. Imagens seleccionadas  de vários westerns do Hollywood clássico no que parece ser um exercício de found footage, mas Nicolás Zuckerfeld vai muito mais longe: Apartir de uma misteriosa citação de Raoul Walsh o documentário abre-se e converte-se num trabalho quasi detectivesco que recorre com paixão cinéfila entrevistas, livros, pessoas, traduções falhadas, filmes e mais filmes; para tentar descobrir e entender uma maneira de pensar o cinema que por momentos pareceria perdida para sempre. 

Realização Nicolás Zukerfeld. Argumento Malena Solarz, Nicolás Zukerfeld. Montagem Malena Solarz, Nicolás Zukerfeld. Som Valeria Fernández. Produção Juan Segundo Alamos, 36 caballos, Punto y Línea. 2020, 63′

 

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FAMILIA SUMERGIDA, María Alché

Enquanto a sua família vive num apartamento de um subúrbio de Buenos Aires onde as plantas compõem uma espécie de recife de corais, Marcela ocupa-se da vida que a sua irmã deixou ao morrer. A intimidade que desenvolve com o Nacho dá cor ao luto que vive com ilusão e mistério. Nesta primeira longa-metragem, Alché pinta com destreza o quotidiano familiar e destaca o seu epicentro: uma viagem íntima, feminina, aqui e ali, fantasmagórica. Por outro lado, reivindica formas de conhecimento descredibilizadas pela razão e, com um humor agudo, desafia a “honra” de certos afectos.

Realização María Alché. Argumento María Alché. Fotografia Hélène Louvart. Montagem Livia Serpa. Som Julia Huberman. Interpretação Mercedes Morán, Esteban Bigliardi, Marcelo Subiotto, Ia Arteta, Laila Maltz, Federico Sack. Produção Bárbara Francisco. 2018. 91′

 

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FIN DE SIGLO, Lucio Castro

Chegar a uma estação, andar pelas ruas, entrar num apartamento alugado temporariamente, abrir o frigorífico. O quotidiano marca o compasso deste filme. As premissas iniciais são concretas, horizonte urbano, cruising na praia. Eventualmente a coisa complica-se: o presente leva-nos ao passado em forma de memória perdida e cobrada, e um sonho inquieta-nos num desejo. O passado e o futuro compõem o tempo presente, nostalgias e desejos habitam paralelamente os corpos e mentes destes dois homens, as suas forças e as experiências. Que voltam a encontrar-se. Para voltar a sonhar. 

Realização Lucio Castro. Argumento Lucio Castro. Fotografia Bernat Mestres. Montagem Lucio Castro. Som Robert Lombardo. Interpretação Juan Barberini, Ramón Pujol, Mía Maestro. Produção Joanne Lee. 2019. 84′

 

 

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LAS BUENAS INTENCIONES, Ana García Blaya

Se o primeiro filme de uma filmografia é ao mesmo tempo apresentação e declaração de princípios, este trabalho de García Blaya mata dois coelhos de uma cajadada só. Aproveitando como matéria prima a sua própria infância –a separação dos seus pais e uma mudança de país- constrói não só um comovedor retrato familiar, mas também a radiografia de uma sociedade moldada pelas crises económicas e pelas suas paixões populares. A realizadora une ficção com material de arquivo caseiro e consegue o milagre característico daqueles relatos íntimos especiais: ser universal.

Realização Ana García Blaya. Argumento Ana García Blaya. Fotografia Yarará Rodríguez. Montagem Rosario Suárez, Joaquín Elizalde. Som Martín García Blaya. Interpretação Javier Drolas, Amanda Minujín, Jazmín Stuart, Juan Minujín. Produção Juana García Blaya, Joaquín Marqués, Juan Pablo Miller. 2019. 86′

 

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ÁNIMA BUENOS AIRES, María Verónica Ramírez

Um bandoneón lança notas no ar e o seu som evoca de maneira tão misteriosa como inequívoca a cidade de Buenos Aires. Uma verdadeira seleção de autores de banda desenhada e de animação argentinos tecem este retrato coral acompanhados pela música de Rodolfo Medeiros. Ánima Buenos Aires é uma viagem poética e profundamente autoral pela idiosincrasia rioplatense, as suas ruas, as suas personagens e a sua História. Com um humor que não distingue idades e uma combinação de técnicas que vai desde a animação tradicional em 2D, à foto-montagem de stencils, trata-se de um conjunto de curtas cheias de virtuosismo e beleza.

Realização María Verónica Ramírez. Argumento M. Rulloni, J.P. Zaramella, F. Faivre, P. Faivre, P. Rodríguez Jáuregui, C. Nine, L. Nine, Caloi, M.V. Ramírez. Fotografia Sergio Piñeyro. Montagem Pablo Margiotta, Non Stop. Som Stavros Sound Digital. Produção CT Producciones. 2011. 95′

 

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EL PATALARGA, Mercedes Moreira

Depois de almoçar, quando as tardes quentes e calmas vão chegando, as aldeias entregam-se a um desses prazeres milenários: a siesta. Só os miúdos, com as suas brincadeiras e gritarias, poderiam interromper este momento de paz. Mas uma criatura assustadora encarrega-se de os impedir, o Patalarga. Esta primeira obra de Mercedes Moreira conta a aventura de três amigos, Teto, Maru e Ramón, que um dia decidem ser valentes e lutar pela verdade. Uma história encantadora, genuína e nobre, realizada em “cut out” (figuras em papel e imagens fotografadas de cima e montadas), que reflete o panorama rico e em inquieta expansão do cinema de animação argentino.

Realização Mercedes Moreira. Argumento Edi Roca. Fotografia Joaquín Zelaya Sánchez. Montagem Juan Barragán. Som Eric Kuschevatsky. Interpretação Favio Posca, Peto Menahem, Ines Efrón, Charo López, Azul Fernández, Julián Lucero, Tamara Kipper. Produção Eucalyptus. 2019. 70′

 

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RÍO TURBIO, Tatiana Mazú González

Por entre material de arquivo familiar, transmissões de rádio ou mensagens de WhatsApp, Río Turbio não se limita a documentar um capítulo da História sindical argentina que aconteceu há algumas décadas num pueblo remoto da Patagónia, mas consegue algo bem mais difícil: ilumina as pontes entre as lutas do passado e as do nosso presente. Mazú entende que tal como a militância pode e deve adquirir diversas formas para conseguir as suas conquistas, o cinema deve abraçar ideias visuais e sonoras igualmente revolucionárias quando se propõe tornar visível o invisível. 

Realização Tatiana Mazú González. Argumento Tatiana Mazú González. Fotografia Tatiana Mazú González. Montagem Sebastián Zanzottera. Som Julián Galay. Produção Florencia Azorín, Antes Muerto Cine. 2020, 86′

 

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